sábado, dezembro 16, 2006

(Imagem de Carmen Manno).
Desespero aquático.
Parece que brinco com a metade da chuva em mim
E os pés, enlameados, pesam os pensamentos leves.
Não me assusta a noite de ontem e a de hoje nada me é
Mais do que foram tantas espalhadas na nudez do viver.
Um tanto de mim grita as paredes o silêncio do peito
E fora sorri a mulher vestida de dores em seu reino.
Inocente, a fogueira nos olhos reclama lençóis desfeitos,
Sonho fugidio, mochila aberta sem o cheiro dele.
Analiso o tempo de parir a alma e recolho sementes
Do que talvez um dia seja o agora disfarçado de presente.
O que faz da ausência o meu jeito pranteio sem medo
E dona de nada, molho telepaticamente o ausente.
Dói mais em mim do que nele essa lâmina infiltrada
No que de nós ressurge quando choro e deságuo a linha
Do querer ser a única flor a colorir sua estrada estrelada,
Por mim idolatrada, parte esquecimento, forma de ser água.
Parece que brinco comigo e molhada chovo a que sou
Na encosta de um tempo anuviado na permanência de meus anseios.
Parece que brinco e permaneço, porém não fluida, morro,
Alagada e pesada tempestade, acorrentada à palavra saudade.
Eliane Alcântara.